Este é um conto da minha autoria que escrevi para a aula de Língua Portuguesa. Era necessário encontrar uma imagem para nos inspirarmos, que podem ver aqui abaixo.
O avião finalmente aterrara no
seu destino. Acabava de chegar a Paris e, ao invés de ficar feliz por estar na
sua cidade favorita, um arrepio fez com que ficasse com medo. Não era com
intenção de férias que iniciara aquela viagem. Era uma história quase irreal e
difícil de se explicar a alguém que não a conhecesse. No entanto, e após onze
anos, os acontecimentos ainda estavam bem vivos na sua memória.
Mariana era feliz, sentia-se
completa com Guilherme. Era nova na escola de ambos e sem conhecer ninguém, Guilherme
foi o seu grande apoio e tornou-se o seu melhor amigo, acabando por
apaixonar-se por ele e o sentimento ser mútuo. No entanto, e tal como em todas
as relações, havia sempre alguém que fazia de tudo para estragar a felicidade
deles. Por inveja ou por simples problema psicológico, Júlia era uma má
rapariga. Desde cedo mostrou interesse por Guilherme, mas chegou a um ponto que
começou a ultrapassar todos os limites. Desde mentiras a discussões, tudo
servia para semear no coração de Guilherme o amor por ela e o ódio por Mariana.
Esse objetivo nunca foi conseguido.
E com a chegada ao fim do ano
letivo e a consequente entrada no Ensino Secundário, o casal escolheu cursos
diferentes e ela chegou a temer que a sua história acabasse ali. O sentimento
acabou por encurtar a distância e a relação prosseguiu.
Um dia, e após a rotina escolar,
Mariana foi a casa do namorado para estar com ele e sofreu um duro golpe:
Guilherme estava a beijar Júlia. Num choro descontrolado e sem sequer perguntar
o porquê daquilo a Guilherme, fugiu para casa e cortou ligações com os dois
para sempre.
Tinha-se passado onze anos. Um
dia, Mariana decidiu organizar o seu arquivo que estava uma autêntica bagunça. Ao
arrumar alguns dossiês, deparou-se com uma onde dizia "amo-te
Guilherme". Imediatamente deve um déjà-vu onde se lembrou de todos os
momentos felizes que passou com o rapaz e a consequente desilusão amorosa.
Instantaneamente começou a chorar e não conseguiu perceber porquê. Sentiu-se
furiosa consigo mesmo, tinham-se passado mais de dez anos e ele continuava a
mexer com o seu coração sem motivo aparente.
Decidiu esquecer aquela situação
por completa e foi jantar fora. Após pagar o jantar e sair do restaurante,
recebeu uma mensagem no telemóvel: «Mariana, por favor, não ignores o que vais
ler. Preciso muito de ti e da tua ajuda. Estou às portas da morte. Telefona-me
quando puderes. Sei que tudo isto é estranho, mas em breve perceberás. Um
beijo, Guilherme». Mariana ficou estática em frente à porta do restaurante. Foi
preciso alguém chamar-lhe à atenção para ela voltar à realidade e tomar noção
do que tinha acabado de ler. Decidiu apagar a mensagem e ir para casa. Se
precisasse de ajuda fosse chamar a Júlia, e esquecesse-a para sempre! Será que
pensou nela quando a traiu com a outra?
Tinha chegado a casa e ainda não
tinha decidido o que fazer. Por um lado sentia-se revoltada: Guilherme
abandonara-a há anos, tinha-a traído com a sua pior inimiga e, ainda por cima,
quando precisava de apoio é que se lembrava dela. De outro ponto de vista totalmente
diferente, Mariana ainda amava-o e sentia que aquela simples mensagem por
telemóvel podia trazer-lhe a felicidade novamente. Uma felicidade ainda marcada
por algumas angústias do passado, mas nenhum sentimento é perfeito.
E era isso que fazia ali agora,
em plena capital francesa. Guilherme estava internado num hospital com cancro
cerebral, e o tempo de vida era demasiado curto. Tinha ido trabalhar para lá
após ser destacado pela sua empresa para dirigir uma filial. A descoberta da
doença tinha sido um grande choque para ele e, secretamente, para Mariana
também. Custava-lhe a acreditar que a única pessoa que amou e ainda amava
poderia morrer a qualquer momento.
Tinha chegado ao quarto dele,
naquele distante Hôpital Notre-Dame du Pilar de France. O som das máquinas
acompanhava o seu longo respirar. Mariana tinha muitas dúvidas, queria
respostas e ansiava por elas. No entanto, Guilherme dormia tranquilamente e
decidiu não acordá-lo.
Tinham-se passado várias horas e,
finalmente, Guilherme acordara. Os seus olhos cruzaram-se com os de Mariana e o
choque foi instantâneo. O silêncio reinava mas, a jovem decidiu interrompê-lo,
exclamando:
- Esquece tudo o que se passou. O
passado é algo acabado. O nosso objetivo agora é salvar-te desse monstro que
vive dentro de ti.
- Mariana espera, tenho algo a
dizer-te...
- Não digas nada. Esquece tudo,
tudo mesmo. Embora ainda esteja revoltada, aquele sentimento ainda permanece
intacto por ti. Não estragues tudo de novo, por favor. Eu juro que esta doença
vai acabar e que ainda podemos ser felizes.
- Mariana, nem acredito que me
estejas a dizer isso, parece que me leste os pensamentos! Amo-te muito, e tudo
o que aconteceu foi apenas uma parte das nossas vidas! Ainda temos muito para
viver!
Tinham-se passado mais de dois
meses. Guilherme voltara a casa e Mariana estava com eles. Ambos tinham
encontrado finalmente a felicidade, no ombro um do outro. Diariamente,
Guilherme fazia fisioterapia e Mariana trabalhava num jornal francês, emprego
que arranjara. Infelizmente, o destino ainda ia-lhes pregar uma valente
partida, desta vez fatal.
Era um dia normal, Guilherme
estava a caminho do Hospital com Mariana, como era habitual. A meio de uma
passadeira, um carro apareceu a uma velocidade estonteante e por milímetros
quase mataram a jovem. No entanto, Guilherme empurrara-a para o passeio e tinha
sido ele a vítima. O choque foi fatal e o jovem ficou sem andar. Parecia não
haver solução desta vez.
Após uma operação às duas pernas,
Guilherme regressara a casa. Desesperado e revoltado com tudo o que se tinha
passado, pegou no telemóvel e ligou para Mariana, dizendo:
- Mariana, chegou a hora. Não
suporto mais dores desde o acidente que quase me ceifou a vida. Estou neste
momento com uma arma apontada a mim, pronto a disparar. Não quero que fiques
preso a um homem que nunca te poderá fazer feliz como dantes.
- Guilherme, não faças isso! Por
favor!
- Mariana, ouve: não há outra
solução para esta situação. Quero que sejas feliz. Lá porque eu não o sou, não
significa que tu ainda não o possas ser.
- Não, espera. Vamos fazer isto
juntos, antes que a cidade adormeça.
A jovem subiu o prédio do seu
jornal e sentou-se no parapeito mais alto, com
vista para a bela Torre Eiffel. As duas vozes sussurram ao mesmo tempo um
triste «amo-te». A jovem atirou-se da janela ao mesmo tempo que
ouviu-se um tiro. Àquela hora, havia dois corações que tinham falecido na
cidade-Luz.
Meses depois, Júlia recebeu a
notícia da morte de Guilherme. As lágrimas rolaram-lhe pela cara, quando se
lembrou do momento em que o seu carro entrou na rua errada e fez com que alguém
perdesse a vida...