quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

(...)

A cada dia que passa sinto-me cada vez mais triste. Estou farto desta vida injusta, desta vida que nunca me dá momentos felizes que não acabem num instante. Ninguém à minha volta consegue sequer captar o quanto ando deprimido. 
A minha família nunca valoriza os meus esforços e nunca tem tempo para ouvir-me quando preciso. No entanto, há sempre tempo para criticarem-me, para colocarem-me ainda mais em baixo do que já estou. Para eles eu nunca tenho notas suficientemente boas, tenho que ter sempre algo mais. O problema nunca é dos professores, nunca é da disciplina ou da matéria. É sempre meu, sempre. Discutimos quase todos os dias, porque há uma falta de justiça aqui por casa de meter medo ao susto. E cada vez mais me vou afastando e, pior que isso, é que ninguém está a notar.
Vejo, à minha volta, tanta gente que perde anos escolares seguidos, que tem montes de negativas ou que tem vícios bastante maus, serem mais felizes do que eu. Podem ir às festas que querem, têm o dinheiro e a liberdade que querem sem os pais sequer se opor. Do outro lado estou eu: que não tenho vício nenhum, tenho notas razoáveis e nunca perdi de ano mas, mesmo assim, passo a vida trancado em casa e o único dinheiro que tenho é para comprar as senhas de almoço na escola.
Não deixa de ser verdade que o que mais importa é o meu futuro, aliás.. o futuro é sempre mais importante do que o presente. Tenho tanto medo de, numa época qualquer que esteja para vir, pensar que não aproveitei a minha adolescência como queria e que perdia-a por completo. Tudo é para o meu bem, mesmo tudo.. 
E eu tento disfarçar, todos os dias eu tenho o mesmo sorriso na cara, a mesma gargalhada. Mas ninguém sabe que, quando chego a casa, essa máscara feliz é retirada imediatamente. Que os olhos às vezes também se enchem de lágrimas e que há uma pressão enorme para não caírem. 
Começo a duvidar da minha religião, um dos meus pilares está também ele a cair por terra. Não concordo com metade das leis da vida, não quero morrer e aproveitar muito bem a minha vida. Quero ter a liberdade de senti-la, de vivê-la ao máximo. Mas não, há uma outra parte de mim que sabe que isso nunca vai acontecer. Que vou levar o resto dos meus dias a trabalhar para ter dinheiro e, mesmo assim, ele vai ser pouco e nunca vou poder, provavelmente, realizar metade dos meus sonhos. Sim, para mim, até a definição de 'sonho' mudou de significado, passou a designar-se por algo que eu desejo mas que eu próprio sei que nunca vai acontecer. 
Eu tenho motivos para isto. Há três anos que prometem-me uma viagem a Lisboa mas, pelo quarto ano consecutivo ela não vai acontecer. Todos os anos há um motivo: a avó é operada, não há dinheiro, não vai dar jeito, etc. Eu aceito sempre tudo, até porque não há outra opção. 
E o problema qual é então? Simples, todos os anos eu crio a expectativa, a esperança. E elas acabam todas por cair, por desaparecer. E eu fico fulo, e na maioria das vezes não é devido ao desejo não ter-se concretizado, mas sim porque eu fui burro, novamente.
A rotina vai e vem. Todos os dias vou para os mesmos sítios, falo com as mesmas pessoas, tenho as mesmas aulas, as mesmas preocupações e os mesmos anseios. E nada se altera. E, provavelmente, nada irá mudar. Nunca. E eu canso-me. Porque, para a minha família, felicidade é ter comida e um tecto para morar; para os meus amigos felicidade é tirar um 10 num teste ou ir à festa do liceu; porque para a vizinhança a felicidade é ter uma novo enredo para comentar (...) e eu não concordo com nenhuma, provavelmente tenho uma definição de felicidade que nunca poderá ser realizada na vida que levo hoje em dia. É complexa para todos, mas para mim é simples. 
E o presente acabou por tornar-se uma mistura de saudades. Saudades de pessoas, de momentos, de realidades que nunca voltarão. E cada vez mais me afundo em mim próprio, todos os dias mais um pouco. O fundo não deve estar longe, é certo. E eu agora só queria que alguém compreendesse o que se passa dentro de mim e me salvasse do colapso psicológico que me está a levar a um abismo tão negro e do qual eu nunca mais poderei voltar...

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